sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Hard day's night

Quando se encontra “na berra”, derivado à Optimus, uma outra canção dos Beatles, “All together now”, que foi gravada em 1967, mas que só foi lançada em 1969, integrando a trilha sonora do desenho-animado “Yellow Submarine”, a minha analogia de hoje vai, no entanto, para uma outra – “A hard day’s night” – que dá nome a um álbum (o terceiro da mítica banda britânica) e a um single, de 1964.
Isto tudo vem a propósito de eu vos querer contar o dia-a-dia de uma pessoa da classe média (classe média?! Pronto, começam as piadas…), com família, duplo emprego e formação em curso. Eu, provavelmente, deveria escrever sobre a conquista de mais dois prémios pelos SMAS de Oeiras e Amadora – “Tubos de Ouro, ENEG/2011” – um para o melhor sitio na internet e outro para a melhor informação sobre a qualidade da água; sobre a propalada extinção de freguesias, tema que, recentemente, valeu vaias ao ministro que tutela o Poder Local (e de quem prezo ser amigo); ou sobre o 85º aniversário da Freguesia de Paço de Arcos, que se comemora no próximo dia 7 de Dezembro. Mas, como ser “juiz em causa própria” não é para quem quer, mas só para quem pode, vou, antes, dedicar o pouco tempo que tenho (e que vocês têm), a discorrer sobre banalidades. Sempre cansa menos…
Depois de se deitar tarde e de se levantar cedo, fruto de um despertador biológico-orgânico irritantemente madrugador que ambos os seus filhos possuem, o nosso personagem prepara-se para um “hard day”. A manhã, de entre meia-dúzia de berros, pequeno-almoço e o “Público” da semana passada (uma evolução em relação ao “Expresso”… também da semana passada! O desta semana ainda não saiu do saco de plástico), termina com a preparação para sair. Almoço em casa dos pais.
Durante o repasto fala-se de futebol, que é o mesmo que falar da derrota do Benfica na Madeira. Entretanto, o convívio é abreviado porque o avô quer ir comprar as prendas de Natal para os netos. Num ápice…”pimba”…Toy’s r Us! Para ganhar algum tempo e, sobretudo, para não atrapalhar, o filho mais velho fica entregue à tia.
Regresso a casa, meio da tarde e já com meia hora de atraso, festa de Natal de uma associação de solidariedade social. Recepção, lanche e momentos musicais. Por entre um chá e um croissant (já não chegou a tempo dos pastéis de nata), ouve-se fado e música popular portuguesa, mas também se aproveita para pôr a conversa em dia com os convivas presentes, trocar SMS com uma pessoa que está na mesma mesa (!!) – colega de um dos trabalhos – e ver e enviar mails através do telemóvel. Oferece-se um discurso em troca de uma prenda (sem direito a remorsos) e, ao fim de duas horas e meia, regresso a casa.
Um suspiro no sofá com o jornal “i” do dia anterior e uma incursão à cozinha para fazer uma tarte de atum, queijo e banana. Enquanto vai ao forno, também se vai o “Público” do dia anterior. Toca o telemóvel…é um amigo…chiça, esqueceu-se! Tinha ficado de ir jantar à nova casa de um grande amigo e, como não agendou, o telemóvel não avisou. Ele até já tinha aberto um vinho especial… Não havendo, entre eles, qualquer tipo de cerimónia, ficou um penhorado pedido de desculpas e a promessa de retractação para muito em breve.
O filho mais velho, entretanto, depois de fazer os trabalhos de casa, sai para ir jantar com a tia. Na volta de levar o lixo, é preciso trazer o petiz. Ainda ajuda no fim do banho e vai com ele estudar para o teste de português. Pelo meio, também se livrou (com deposição nos respectivos ecopontos) do material triado para reciclagem durante a semana.
Volta à sala, mas desta vez não há tempo para suspiros. É preciso arrumar a roupa e os sapatos acumulados durante os últimos dias.
São onze e meia da noite. Pára para fumar uma cigarrilha e pensa que ainda tem um artigo para escrever para o jornal, um artigo para escrever para a revista e um plano de negócios para ler e comentar (porque é preciso preparar um seminário na escola de direcção e negócios onde se lembrou de ir fazer um MBA. As sextas-feiras à tarde e os sábados de manhã ainda não estavam suficientemente ocupados…). E este é o fim-de-semana da injecção…
É Domingo (!), quatro horas dormidas (ainda que por uma boa causa) e “alguém” cantando ao seu ouvido, “one, two, three, four, can I have a little more”…